Medicamentos na gravidez: terapia antimicrobiana na gestação
O uso de medicamentos na gravidez é uma prática relativamente comum, visto que estudos epidemiológicos demonstram que a maioria das gestantes fica exposta a algum tipo de fármaco.
Apesar disso, uma das áreas ainda pouco desenvolvidas na farmacologia e pesquisas é exatamente acerca do uso na gestação e lactação. A seguir, entenda mais sobre o uso de medicamentos na gravidez e a terapia antimicrobiana na gestação.
O uso de medicamentos na gravidez
Grande parte dos estudos randomizados sobre drogas exclui grávidas e lactantes. Dessa forma, o conhecimento sobre os efeitos dessas substâncias no feto/lactente torna-se limitado aos estudos em animais, relatos de casos e estudos de caso-controle.
Assim, a prescrição e o uso de medicamentos na gravidez e lactação são considerados, de certo modo, experimentais. Além disso, limitam-se também as informações sobre alterações fisiológicas e complicações comuns da gestação na depuração e eficácia de drogas.
Em geral, a absorção dos medicamentos na gravidez não é alterada. Contudo, a distribuição pode estar aumentada devido às modificações no volume plasmático, débito cardíaco e na água corporal. Isso pode exigir ajustes de doses em algumas situações.
Por outro lado, a diminuição relativa das proteínas plasmáticas pode determinar o aumento da fração livre dos medicamentos intensificando o efeito e diminuindo a duração. Assim, o aumento do fluxo plasmático renal e da filtração glomerular pode promover maior depuração renal de diversos fármacos. Consequentemente, pode exigir ajustes nos intervalos de administração.
Medicamentos e a lactação
A dose de qualquer fármaco que o lactente recebe, ou seja, o bebê, depende da quantidade excretada no leite materno, do volume de leite ingerido diário, da concentração plasmática média da mãe e da absorção da substância no trato gastrointestinal do recém-nascido.
Assim como na transferência placentária, a transferência de medicamentos por meio da membrana basal dos alvéolos da glândula mamária depende da lipossolubilidade (capacidade de dissolver gordura), das proteínas de ligação e do grau de ionização da droga utilizada.
A maioria dos medicamentos passa para o leite materno, quase sempre em pequenas quantidades. No entanto, o conhecimento relacionado à excreção dos medicamentos no leite materno ainda é limitado.
Desse modo, assim como na necessidade de uso de medicamentos na gravidez, os medicamentos prescritos pós-parto têm atenção especial. São raros os casos em que o uso da droga é imprescindível.
Por isso, é essencial manter um relacionamento próximo ao pediatra, principalmente em situações em que é preciso abdicar da medicação durante o aleitamento. Conheça os princípios gerais seguidos para a prescrição de medicamentos e mulheres lactantes:
- Escolher os medicamentos com menor excreção no leite materno;
- Evitar medicamentos de ação prolongada;
- Programar o horário de administração evitando que o pico no sangue e no leite materno coincida com o horário das mamadas;
- Orientar a mãe para observar a criança com relação aos possíveis efeitos colaterais;
- Avaliar a necessidade de dosagem da concentração sérica no lactente.
Antimicrobianos na gravidez
São diversas as situações clínicas que podem exigir medicamentos na gravidez de origem antimicrobiana. Entre elas, a prevenção de complicações maternas e perinatais, tratamento de bacteriúria assintomática, prevenção da sepse neonatal, ocorrência de doenças infecciosas na gestação, infecções de vias aéreas superiores, infecção urinária, pneumonia, sífilis, entre outras.
Tetraciclinas
As tetraciclinas, estreptomicina e canamicina são os antimicrobianos com risco fetal inquestionável. Portanto, devem ter seu uso proscrito na gestação.
Penicilinas
As penicilinas, e seus derivados e o ácido clavulânico são consideradosas seguras na gestação e podem ser utilizadas em qualquer período gestacional.
Macrolídeos
Dos macrolídeos, a eritromicina e a azitromicina parecem ser os mais seguros. Alguns relatos sugerem relação do uso da claritromicina com mais risco de abortamentos na gestação humana. Assim, sugere-se evitar seu uso na primeira metade da gestação.
A eritromicina não deve ser utilizada para tratar sífilis na gestação, visto que a medicação não alcança níveis terapêuticos adequados no feto. Já a espiramicina, usada para tratar infecção aguda da toxoplasmose materna, é segura para o feto.
Aminoglicosídeos
Entre os aminoglicosídeos, o uso da gentamicina ou amicacina pode ser aceitável em casos de infecções por bactérias resistentes a agentes menos tóxicos. Entretanto a possível ototoxicidade é nefrotoxicidade contraindicam o seu uso na maioria dos casos. Não existem relatos de toxicidade fetal com o uso da gentamicina.
Nitrofurantoína
A nitrofurantoína é considerada segura na gestação, embora possa desencadear anemia hemolítica em fetos com deficiência de glicose 6 fosfato desidrogenase.. Por isso, seu uso no final da gestação deve ser evitado.
Lincosaminas
A clindamicina é mais utilizada no tratamento da infecção puerperal, mas o uso é compatível com a gestação. Seu principal risco é a ocorrência de colite pseudomembranosa na gestante.
Sulfonamidas
As sulfonamidas não causam dano fetal. Contudo, sua administração no final da gestação pode induzir icterícia e anemia hemolítica. A trimetoprima, que é antagonista do folato, é associada a mais risco de defeitos cardíacos e fendas orais no feto exposto à substância durante o primeiro trimestre. Portanto, seu uso é contraindicado nessa fase da gestação.
Quinolonas
Existe um risco teórico pois atua na enzima girase do DNA. Foram descritas lesões em cartilagens de animais. Por isso são deixados com segunda linha na gestação
Fosfomicina
O seu uso foi seguro tanto em estudos com animais quanto na gestação humana.
Carbapenêmicos
Os carbapenêmicos são indicados no tratamento de infecções graves por germes multirresistentes, sendo o imipenem o mais conhecido. Não existem estudos adequados sobre sua adoção na gravidez humana. Entretanto, pode ser considerado uma opção no período perinatal.
Pirimetamina
A pirimetamina, um antagonista do ácido fólico utilizado no tratamento da malária e toxoplasmose, não deve ser usada no primeiro trimestre de gestação. Quando prescrita, deve estar sempre associada à suplementação de ácido fólico para prevenção de deficiência de folato.
Antifúngicos
Os antifúngicos de ação tópica, como clotrimazol, miconazol, nistatina e isoconazol, são considerados seguros na gestação. Não existem estudos adequados sobre a adoção dos antifúngicos de uso oral na gestação humana, devendo ser evitados principalmente no primeiro trimestre.
Antivirais
Dos antivirais, o aciclovir é o que tem mais estudos na gestação humana, e os dados disponíveis sugerem ser aparentemente seguro na gestação. Nesses estudos não foram identificados riscos maiores de malformações fetais. Os antivirais utilizados no tratamento da infecção materna pelo HIV são quase todos classificados como compatíveis com o uso na gestação.
Os estudos relacionados aos medicamentos na gravidez ainda são inferiores ao que se espera. Contudo, pesquisadores continuam buscando formas de garantir a segurança da mãe e do bebê ante a necessidade de terapias medicamentosas durante a gestação ou lactação.
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