“Global guidelines for breast cancer screening: A systematic review”

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A última edição da revista “The Breast”, de Agosto/2022 coloca em destaque um tema de extrema relevância para mastologistas e ginecologistas: o rastreamento do câncer de mama.


O estudo “Global guidelines for breast cancer screening: A systematic review” conduzido por pesquisadores chineses, traz uma revisão sobre as diretrizes existentes, e sumariza suas principais recomendações para fornecer referências para boas práticas clínicas em diferentes países.

As mulheres podem ser divididas em população de risco habitual para o desenvolvimento do câncer de mama, ou população de alto risco, que apresenta fatores de risco bem-estabelecidos para o câncer de mama (história pessoal de lesões pré-cancerígenas e/ou câncer de mama, história familiar de câncer de mama, predisposição genética conhecida, história prévia de radioterapia torácica, e mamas densas). Por consequência, as recomendações para o rastreio do câncer de mama variam dependendo do risco individual de cada paciente. 

Mamografia: principal modalidade de rastreamento


Entre 2010 e 2021, foram emitidas 23 diretrizes de rastreamento em 11 países e foram analisadas no estudo. Em todas as diretrizes, a mamografia foi recomendada como a principal modalidade de rastreamento para mulheres de risco habitual. Além disso, para essa população de mulheres, a maioria das diretrizes recomenda o rastreamento com mamografia entre 40 e 74 anos. Mais especificamente, a faixa etária entre 50-69 seria a mais beneficiada, apesar de estudos recentes já apontarem o benefício do rastreio iniciando-se aos 40 anos, e estendendo além dos 69 anos, especialmente nas mulheres com expectativa de vida superior a 7 anos. Essa discussão sobre individualizar a idade para o término do programa de rastreamento encontra apoio em 9 das 23 diretrizes avaliadas.

Fatores de risco merecem um programa de rastreio mais agressivo


Por outro lado, as mulheres que apresentam fatores de risco para o câncer de mama, merecem um programa de rastreio mais agressivo, que inclui início mais precoce, periodicidade mais curta, e uso de outras metodologias de imagem, como a Ressonância Magnética.

Importante destacar que nenhuma das diretrizes avaliadas recomendou o uso do autoexame, ressonância magnética, e tomografia computadorizada para rastreio de mulheres de risco habitual, devido à falta de evidência científica de benefícios.

Outro aspecto interessante foi que diversos países em desenvolvimento não possuem diretrizes para rastreamento do câncer de mama, fato que foi atribuído pelos autores à escassez de evidências nacionais sobre rastreamento do câncer de mama e o eventual impacto clínico positivo que seria advindo do emprego dos escassos recursos desses países em estratégias para rastreamento.

Recomendações do INCA

Como comentários sobre a estudo, vale ressaltar que no Brasil a recomendação de rastreamento para câncer de mama segundo o INCA/Ministério da Saúde, é de mamografia a cada dois anos para mulheres entre 50 e 69 anos de idade. Por outro lado, outras referências nacionais como a Sociedade Brasileira de Mastologia, a FEBRASGO, e o Colégio Brasileiro de Radiologia, recomendam mamografia anual entre 40 e 74 anos para populações de risco habitual. 

Vale anexar os importantes dados fornecidos pelo estudo brasileiro “Amazona III” que trouxe informações epidemiológicas sobre o câncer de mama no nosso país:

A média de idade ao diagnóstico do câncer de mama foi de 53 anos, sendo que 43% tinham menos de 50 anos. Em relação ao método de diagnóstico, apenas 34% dos casos foram detectadas por rastreamento assintomático. As usuárias do sistema público apresentaram diagnóstico em estágios mais avançados e tumores com características moleculares de pior prognóstico. Estes dados reforçam a importância da revisão da idade indicada para o início da realização de exames de rastreamento.

Informações advindas de revisões internacionais, como o estudo chinês discutido acima, são de extrema importância e consistem nos alicerces para a tomada de decisões e formulações de diretrizes adaptadas à realidade de cada país, para o combate à principal causa de câncer em mulheres.

Clique aqui para ler o artigo na íntegra pelo DOI ou na área restrita do site da SOGIMIG.

Referências:
1. WenhuiRen, Mingyang Chen, YoulinQiao, Fanghui Zhao. Global guidelines for breast cancer screening: A systematic review. The Breast 64,85-99 (2022). https://doi.org/10.1016/j.breast.2022.04.003.
2. Rosa, D.D., Bines, J., Werutsky, G. et al. The impact of sociodemographicfactors and health insurance coverage in the diagnosis and clinicopathological characteristics of breast cancer in Brazil: AMAZONA III study (GBECAM 0115). Breast Cancer ResTreat,  183, 749–757 (2020). https://doi.org/10.1007/s10549-020-05831-y