Hemorragia pós-parto: fatores de risco e conduta diante da atonia uterina e outras causas

As complicações puerperais, como a hemorragia pós-parto, estão entre as principais causas de morbidade e mortalidade maternas evitáveis. Desse modo, na ausência de acompanhamento adequado, evoluem sem diagnóstico e tratamento em tempo hábil. 

Consequentemente, ocorre a piora do estado clínico, situação que demanda a readmissão hospitalar da puérpera, interferindo não apenas nos cuidados e no afeto com o recém-nascido, como também em sua dinâmica familiar e social e em consequências graves, como o óbito materno. A seguir, conheça melhor a hemorragia puerperal, seus fatores de risco, 

Definição de hemorragia pós-parto

A hemorragia pós-parto é a complicação mais frequente do puerpério, sendo responsável por mais de 25% das mortes maternas em todo o mundo. Conforme critérios da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), a hemorragia puerperal corresponde à perda de sangue em volume que comprometa a estabilidade hemodinâmica da puérpera.

Assim, resulta em sinais clínicos como hipotensão, taquicardia e oligúria, além de sintomas como síncope, vertigem ou turvação visual. A maioria das mortes maternas atribuídas à hemorragia pós-parto é considerada evitável.

As principais causas de hemorragia pós-parto são: atonia uterina, lacerações do canal de parto, retenção placentária e problemas de coagulação. Além disso, outras causas incluem inversão e ruptura uterina e prolongamento da histerotomia com lesão de vasos uterinos.

Atonia uterina

A atonia uterina é caracterizada pela ineficácia na manutenção da contração do miométrio, camada muscular do útero. Desse modo, a atonia uterina é a principal causa de hemorragia, choque hipovolêmico e uma das principais indicações de histerectomia pós-parto. Entre seus principais fatores de risco estão:

  • hipotensão;
  • anestesia geral;
  • hiperdistensão uterina;
  • gestação múltipla;
  • macrossomia fetal;
  • polidrâmnio (excesso de líquido amniótico);
  • trabalho de parto prolongado;
  • parto precipitado.

A prevenção da atonia uterina envolve medidas como adequado acompanhamento pré-natal , da evolução do trabalho de parto e vigilância da contração uterina no pós-parto .A conduta para essa condição deve seguir um protocolo gradual.

1. Medidas gerais

Realiza-se um acesso venoso calibroso com infusão rápida de 2.000 a 3.000mL de soro fisiológico 0,9% ou Ringer lactato, para reposição volêmica. Da mesma forma, é feita a sondagem vesical, para monitorização do débito urinário, além da reserva de sangue e massagem no fundo uterino.

2. Tratamento farmacológico

A administração de medicamentos para promover a contração da musculatura uterina também é realizada. Entre os fármacos utilizados estão a ocitocina, alcaloides derivados da ergotamina e misoprostol.

3. Tratamento cirúrgico

Quando as medidas anteriores não são suficientes, o tratamento cirúrgico é uma alternativa. Dessa forma, o procedimento ocorre respeitando a sequência dos procedimentos. Assim, a histerectomia torna-se a última alternativa.

Traumas do trato genital

Assim como a atonia, os traumas do trato genital são responsáveis pela hemorragia pós-parto. Entre os traumas mais comuns estão as lacerações do períneo, vagina ou colo uterino, prolongamento da episiotomia, incluindo lacerações, e a ruptura uterina.

Retenção de restos placentários

A retenção da placenta ou de seus fragmentos provoca hemorragia pós-parto por dificultar a contração do miométrio. A prevenção para a retenção de restos placentários deve ser feita por avaliação rotineira e sistemática da placenta logo após a dequitação. O tratamento inclui extração manual da placenta sob analgesia e curetagem uterina.

Placentação anormal

A expressão acretismo placentário é usada para descrever a condição em que a placenta invade, total ou parcialmente, a parede uterina, impedindo sua dequitação habitual após o parto. 

Coagulopatias

O período periparto predispõe à descompensação de coagulopatias preexistentes, enquanto ocorre consumo considerável de fatores de coagulação. Desse modo, sempre que houver hemorragia pós-parto refratária às medidas terapêuticas iniciais, a possibilidade de distúrbio de coagulação é sugerida. 

Deve-se também atentar para o fato de que o choque hemorrágico de qualquer etiologia pode desencadear uma condição extremamente grave no puerpério. A conduta exige análise do coagulograma e da condição subjacente, que indicarão a necessidade de transfusão de hemácias, plaquetas e/ou plasma fresco congelado.

Outra condição rara, contudo, altamente letal, sendo associada frequentemente às coagulopatias é a embolia de líquido amniótico. Seu diagnóstico é clínico e ocorre durante as manifestações identificadas durante o acompanhamento pré-natal. 

A hemorragia pós-parto é uma condição que, quando não tratada em tempo hábil, pode causar a morte materna. No entanto, em muitos casos, é possível evitá-la. Para isso, o período de acompanhamento pré-natal, parto e puerpério é indispensável.

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