Síndrome dos ovários policísticos: diagnóstico e tratamento para a mulher que deseja engravidar
A Síndrome de Ovários Policísticos (SOP) acomete cerca de 6% a 10% das mulheres na população em geral, sendo considerada a endocrinopatia mais comum entre as mulheres no período reprodutivo.
Tanto a causa como o diagnóstico são motivos de controvérsia, visto que a síndrome dos ovários policísticos pode ter origem variada e manifestar-se clinicamente de diversas formas e intensidades. Desse modo, não há quadro clínico único. Apesar das causas desconhecidas, acredita-se que vários fatores contribuem para o hiperandrogenismo e a anovulação, principais características relacionadas à SOP.
Além disso, estudos com base no genoma descobriram pelo menos 16 locais relacionados com a SOP em que estão genes relacionados com a disfunção reprodutiva e outros com a disfunção metabólica, característicos da síndrome. Continue a leitura conosco para conhecer mais sobre o diagnóstico e tratamento para a mulher com síndrome de ovários policísticos.
Causas da síndrome dos ovários policísticos
A base da causa da SOP é o hiperandrogenismo (aumento dos níveis de hormônios masculinos no organismo) com o compartimento ovariano sendo o colaborador mais consistente desse processo.
Os altos níveis plasmáticos de androgênios, assim como a obesidade e a hiperinsulinemia, provocam também a redução da produção da proteína carreadora de esteroides sexuais (SHBG) pelo fígado, resultando no aumento das frações livres de androgênios e estrogênios circulantes.
A resistência à insulina tem papel importante na causa da SOP. Aproximadamente 65% a 70% das mulheres com SOP apresentam resistência à insulina e a hiperinsulinemia secundária, sendo a maioria obesa.
A obesidade e o sobrepeso estão presentes em mais de 50% das pacientes com SOP, e podem também contribuir para a disfunção ovulatória por três mecanismos: aumento da síntese estrogênica por aromatização, inibição da síntese hepática de SHBG, elevando a fração livre de estradiol e testosterona, e elevação dos níveis de insulina.
Diagnóstico
Atualmente, o protocolo mais usado para diagnóstico da síndrome dos ovários policísticos é a investigação por meio de exames clínicos, exames laboratoriais e exames de diagnóstico por imagem.
Diagnóstico clínico
O diagnóstico de SOP tem por base a história e o exame clínico, ou seja, pacientes com relato de ciclos irregulares desde a menarca ou com amenorreia que apresentam sangramento após o teste da progesterona com sinais de hiperandrogenismo (acne, hirsutismo) e obesidade.
Na prática clínica diária, nem sempre todos esses sinais e sintomas estão presentes, o que pode dificultar o diagnóstico. Devem ser investigadas e identificadas também as situações específicas que levam à anovulação, como hiperprolactinemia, hipotireoidismo, hiperplasia congênita da suprarrenal, síndrome de Cushing, causas hipotalâmicas ou mesmo o início de falência ovariana.
Diagnóstico laboratorial
A propedêutica consiste na dosagem da prolactina, do hormônio estimulador da tireoide (TSH) e da 17-a-hidroxiprogesterona para afastar hiperprolactinemia, hipotireoidismo e hiperplasia congênita da suprarrenal de manifestação tardia.
Alguns estudos recentes recomendam a dosagem do hormônio antimulleriano (HAM) quando não houver aparelho ultrassonográfico ou profissional apropriado para fazer o diagnóstico por imagem.
É fundamental o rastreamento da síndrome metabólica (SM) nas portadoras de SOP, pois sua prevalência nessas pacientes está em torno de 37% a 47%, comparada com 10% a 40% na população feminina em geral.
Diagnóstico por imagem
A ultrassonografia vaginal é indicada. Assim, os ovários devem ter número superior a 12 folículos entre 2 e 9mm de diâmetro médio ou volume ovariano aumentado, ou seja, >10cm3. A presença de ovários policísticos no ultrassom não é essencial nem suficiente para o diagnóstico da SOP.
Para as pacientes que têm longa história de ciclos irregulares, com períodos de sangramento abundante ou prolongado, o endométrio espessado pode ser indicação da necessidade de biópsia endometrial.
Tratamento da síndrome dos ovários policísticos
A paciente portadora da SOP procura atenção médica por motivos diversos. A abordagem terapêutica dependerá do quadro clínico, da etiologia e de seus objetivos. O tratamento consiste na realização de mudanças em hábitos de saúde, controle da irregularidade menstrual e sintomas como hirsutismo e acne.
Mudança nos hábitos de vida
A abordagem inicial às pacientes obesas ou com sobrepeso consiste no estabelecimento de mudanças nos hábitos de dieta, atividade física e perda de peso. Dieta com restrição calórica e programa de exercícios físicos são medidas fundamentais. No entanto, ainda não existem evidências sobre o melhor programa peso inicial de perda de peso ou a dieta ideal para as mulheres com síndrome dos ovários policísticos.
A redução sustentada de 5% a 10% do peso promove melhora da hiperinsulinemia e do hiperandrogenismo com possível retorno da função ovulatória. A manutenção do peso adequado melhora o controle da dislipidemia e da pressão arterial e auxilia na prevenção de doenças cardiovasculares e diabetes.
Controle da irregularidade menstrual
O controle da irregularidade menstrual ocorre por meio do uso de um progestogênio durante 10 a 14 dias por mês, devendo ser evitados derivados da 19-nortestosterona em razão dos efeitos androgênicos.
Em pacientes que desejam a contracepção, o controle do ciclo menstrual deve ser feito com o emprego de contraceptivos orais combinados (COC), evitando-se aqueles cujo progestogênio tenha ação androgênica.
Hiperandrogenismo (hirsutismo e acne)
No momento em que a melhora do hirsutismo constitui o objetivo do tratamento, a melhor opção passa a ser o uso de um contraceptivo oral combinado com o componente progestogênico antiandrogênico, como a ciproterona ou a drospirenona.
Também podem ser associadas outras medicações de ação antiandrogênica, como a espironolactona ou a finasterida. A flutamida deve ser evitada em virtude de sua hepatotoxicidade. O tratamento cosmético por eletrólise ou laser deve ser realizado após o período mínimo de 6 meses de tratamento clínico.
Desejo de gravidez
Quando estão relacionados à infertilidade, os objetivos do tratamento da síndrome são a restauração da ovulação e a gravidez. Para isso, existem diversas intervenções, como as mudanças nos hábitos de vida, os agentes indutores de ovulação, reprodução assistida, entre outras.
Você conheceu neste post as técnicas usadas para diagnóstico da síndrome dos ovários policísticos e as principais condutas indicadas para tratar esse distúrbio hormonal que afeta quase 10% das mulheres no mundo.
Quer acompanhar mais informações como estas? Então, veja também a relação entre a obesidade e a saúde reprodutiva, incluindo as opções de tratamento disponíveis!