Puberdade precoce: por que acontece e como tratá-la?

Sabe-se que a ocorrência da puberdade precoce é maior no sexo feminino e que consiste em um evento benigno sem repercussões na sobrevida do indivíduo. No entanto, em alguns casos, pode ser um primeiro sinal de uma doença sistêmica.
Na puberdade precoce, o critério da idade deve ser avaliado caso a caso. Estudos realizados a partir da década de 1990 identificaram desenvolvimento mamário antes dos 8 anos em 15% das meninas brancas e em 48% das meninas negras, sem contudo alterar-se a idade de aparecimento da menarca (primeira menstruação).
Continue a leitura para entender mais sobre a puberdade precoce.
O que é puberdade precoce?
Também conhecida como precocidade sexual, a puberdade precoce é o desenvolvimento de caracteres sexuais secundários antes dos 8 anos de idade nas meninas e dos 9 anos nos meninos. Essa condição é classificada de duas formas: puberdade precoce verdadeira e pseudopuberdade precoce.
Puberdade precoce verdadeira
A puberdade precoce verdadeira corresponde a 80% dos casos de puberdade precoce. A condição ocorre devido a ativação prematura do eixo hipotalamo-hipófise-ovário antes dos 8 anos de idade, levando à produção de gonadotrofinas e esteroides sexuais, sendo na maioria das vezes de causa desconhecida.
Com métodos diagnósticos por imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética, casos antes considerados idiopáticos (de causa desconhecida) passaram a ser diagnosticados como lesões do sistema nervoso central.
O diagnóstico de causa não identificada ocorre por exclusão e após longo tempo de observação da evolução da paciente, uma vez que algumas lesões do sistema nervoso central só vão manifestar-se na vida adulta.
Lesões do sistema nervoso podem levar à puberdade precoce verdadeira. De acometimento precoce, essas lesões surgem usualmente antes dos 4 anos de idade. Qualquer patologia do sistema nervoso central pode estimular o desenvolvimento puberal, como a hidrocefalia, as infecções, as anomalias congênitas e os traumas mecânicos.
O desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários na puberdade precoce verdadeira geralmente segue a cronologia usual do desenvolvimento puberal fisiológico, mas é possível observar pubarca ou menarca como primeiro evento puberal.
O padrão de desenvolvimento é variável, sendo mais lento nos casos de origem idiopática e mais acelerado nos casos de doenças do sistema nervoso central e tumores. Apresenta características clínicas variáveis, tanto na idade de início como na rapidez das mudanças observadas, e pode corresponder clinicamente à puberdade precoce de evolução lenta ou rapidamente progressiva, onde o tratamento é mais necessário.
Impacto na vida adulta
No que se refere ao impacto da puberdade precoce sobre o indivíduo adulto, sabe-se que há redução na altura final esperada para a idade adulta em razão da união precoce das epífises ósseas.
Inicialmente ocorre aumento da velocidade do crescimento, com estatura acima do esperado para a idade cronológica, aumento da secreção do hormônio do crescimento (GH) e do fator de crescimento insulínico tipo 1 (IGF-1), secundários ao estímulo dos esteroides sexuais. Ao final do processo, ocorre união precoce das cartilagens de crescimento, com estatura final abaixo do esperado para aquele indivíduo.
Não existe repercussão sobre a fertilidade e a idade de ocorrência da menopausa. Um dos aspectos importantes na puberdade precoce é o psicossocial, uma vez que essas meninas tendem a ter o perfil psicológico compatível com a idade cronológica.
Isso, ainda que seu aspecto físico seja o de uma pessoa mais velha, leva ao conflito interno e no meio social e familiar, tornando essas meninas diferentes de suas colegas. Além disso, estão mais expostas ao risco de violência sexual.
Pseudopuberdade precoce
Menos comum do que a puberdade precoce verdadeira, a pseudopuberdade precoce representa cerca de 15% a 20% dos casos. Caracteriza-se pela elevação dos esteroides sexuais não associada a elevação dos níveis de gonadotrofinas ou ainda pela elevação independentemente do estímulo gonadotrófico.
Causas
A pseudopuberdade precoce mais frequente é de causa ovariana, que ocorre pela presença de tumor ovariano, produtor de esteroides sexuais. Outros tumores também podem estar relacionados. Além disso, apresenta outras causas, como:
- Suprarrenal: tumores suprarrenais produtores de estrogênio, como adenomas e adenocarcinomas;
- Síndrome de McCune-Albright: pode estar presente em até 5% dos casos e se caracteriza por displasia óssea, hiperpigmentação da pele com manchas e precocidade sexual;
- Iatrogênica: fonte exógena de hormônios, incluindo a ingestão de estrogênios orais ou o uso de cremes contendo hormônios;
- Hipotireoidismo primário: pode estar relacionado com a puberdade precoce, embora o mais comum seja a puberdade retardada.
Como tratar a puberdade precoce?
Diante de paciente com puberdade precoce é necessário que se estabeleça o mais rápido possível se existe ou não doença sistêmica que coloque em risco sua vida, sendo fundamental para seu diagnóstico a observação dos sinais de desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários e da velocidade de crescimento. Muitas vezes, o diagnóstico etiológico definitivo só é firmado após anos de acompanhamento com:
- História clínica detalhada: tempo de evolução dos sintomas de precocidade sexual, presença de cefaleia, convulsões, distúrbios visuais, alterações de comportamento;
- História pregressa: antecedentes perinatais, traumatismos, infecções, lesões do SNC, doenças metabólicas, exposição a estrogênios, neoplasias, quimioterapia, radioterapia;
- História familiar: doenças metabólicas;
- Exame físico: avaliação dos caracteres sexuais secundários.
Os principais objetivos são diagnosticar e tratar as doenças sistêmicas, interromper o processo de desenvolvimento, diminuir os sinais de precocidade, minimizar a perda óssea, promover a estatura final máxima e diminuir o impacto emocional, social e reprodutivo.
O tratamento da puberdade precoce vai depender da etiologia, devendo ser considerados a idade de aparecimento da precocidade, ritmo de progressão dos sintomas, velocidade de crescimento e aspectos psicossociais.
A terapia deve ser iniciada tão logo se estabeleça o diagnóstico, uma vez que a literatura evidencia que a eficiência terapêutica está relacionada com a idade de início do uso da medicação.
Os casos de progressão lenta ou que se apresentem de forma incompleta merecem atenção especial, uma vez que podem tratar-se de puberdade precoce periférica de evolução lenta, quando habitualmente não há indicação para prescrição de análogos, para bloqueio hipofisário.
Nos casos de doença sistêmica deve ser feito o tratamento específico de acordo com a etiologia: neurocirurgia, radioterapia, quimioterapia, retirada de tumores ovarianos ou das suprarrenais, tratamento do hipotireoidismo e da hiperplasia da suprarrenal.
A puberdade precoce é uma condição considerada rara, em que ocorre o início da maturação sexual antes da faixa etária média. Seu diagnóstico correto é fundamental para o início do tratamento precoce, melhorando a saúde e qualidade de vida do indivíduo.
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