Medicamentos na gravidez: o uso de anticonvulsivantes e drogas psicoativas

O uso de medicamentos na gravidez é comum. Estudos epidemiológicos demonstram que, quase toda gestante fica exposta a algum tipo de fármaco durante a gestação. Durante a gestação, praticamente qualquer droga utilizada pela mãe pode alcançar o feto pela via sanguínea. Poucas substâncias, como a insulina e a heparina não fracionada, não atravessam a placenta. 

A transferência placentária depende significativamente do metabolismo materno, da idade gestacional, das proteínas de ligação e armazenamento, da lipossolubilidade do fármaco e de seu tamanho molecular. Nesta leitura, você vai entender mais sobre o uso de medicamentos na gravidez, em especial, anticonvulsivantes e drogas psicoativas. Vamos lá?!

O uso de medicamentos na gestação

Em situações em que é necessário a prescrição de medicamentos na gestação, o médico deve estar atento para o risco de interferência na eficácia e/ou metabolismo das diferentes drogas. Essa interferência pode ocorrer até mesmo com o uso indevido de medicamentos sem prescrição utilizados por decisão da própria gestante. 

Além disso, considerando gestações que não são planejadas, muitas mulheres podem expor o embrião a diversas substâncias por não terem conhecimento da gravidez. Portanto, é essencial que qualquer prescrição para mulheres em idade reprodutiva considere o potencial risco do uso da substância no caso de gravidez não reconhecida, além de desestimular o uso de medicamentos sem prescrição.

Anticonvulsivantes e drogas psicoativas

Os anticonvulsivantes são teratogênicos, ou seja, causam desenvolvimento anormal prenatal. Entretanto, tem sido considerado que as crises convulsivas maternas são mais prejudiciais ao feto do que a própria medicação. 

Desse modo, o tratamento eficaz das crises convulsivas é realizado durante toda a gestação. Embora não exista consenso sobre o anticonvulsivante de escolha para uso na gestação e se adequado, a carbamazepina é vista como o medicamento que acarreta menos risco.

Medicamentos psicoativos

O tratamento dos transtornos psiquiátricos ainda é um tabu na prática clínica. Por um lado, alguns profissionais supervalorizam sintomas comuns de ansiedade e tristeza que poderiam ser adequadamente abordados sem o uso de fármacos. Por outro, uma quase fobia dos medicamentos psicotrópicos têm colocado gestantes com doenças psiquiátricas sem acesso ao tratamento eficaz. 

Como em toda situação clínica, a avaliação dos riscos e benefícios de qualquer intervenção terapêutica deve ocorrer criteriosamente. Na gestação, a avaliação deve ser mais cuidadosa, visto que os efeitos tanto benéficos quanto indesejáveis podem afetar a mulher e o feto em desenvolvimento. 

O não reconhecimento e a não adoção de tratamento oportuno dos transtornos psiquiátricos determinam não só consequências graves na vida da mulher, como também associam-se a complicações gestacionais, aumentando o risco de pré-eclâmpsia, restrição de crescimento intrauterino, baixo peso ao nascer, entre outras.

Estudos referentes aos riscos de exposição embrionária e fetal aos benzodiazepínicos são controversos. Alguns consideram esses medicamentos na gravidez potencialmente teratogênicos, quando em doses elevadas e de forma contínua no primeiro trimestre da gestação. 

Medicamentos na lactação

A dose de qualquer fármaco que o lactente recebe depende da quantidade excretada no leite materno, do volume diário de leite ingerido, da absorção da substância no trato gastrointestinal do recém-nascido e outros fatores. 

A transferência de medicamentos por meio da membrana basal dos alvéolos da glândula mamária depende da lipossolubilidade, das proteínas de ligação e do grau de ionização da droga utilizada. A maioria dos medicamentos passa para o leite materno, mas quase sempre em pequenas quantidades. 

Contudo, o conhecimento sobre a excreção dos medicamentos no leite materno é ainda bastante limitado, principalmente para substâncias mais novas. Assim, o médico sempre dá atenção especial a qualquer prescrição no pós-parto. Na prática, são raras as situações nas quais é imprescindível o uso de medicamentos que caracterizam contraindicação ao aleitamento materno. 

É importante que a mulher mantenha um relacionamento próximo com o neonatologista ou pediatra em situações nas quais seja necessário lançar mão de medicamentos durante a fase de aleitamento natural, buscando alternativas seguras para mãe e filho. Os princípios gerais considerados pelo médico para a prescrição para mulheres que estejam amamentando são:

  • Escolher os medicamentos com menor excreção no leite materno;
  • Evitar medicamentos de ação prolongada por serem de excreção mais limitada pelo bebê;
  • Programar o horário de administração do medicamento à mãe, evitando que o pico no sangue e no leite materno coincida com o horário das mamadas;
  • Orientar a mãe para observar a criança com relação aos possíveis efeitos colaterais, como alteração do padrão alimentar, hábitos de sono, agitação, tônus muscular e distúrbios gastrointestinais;
  • Avaliar com o pediatra a necessidade de dosagem da concentração sérica no lactente de alguns medicamentos de uso materno prolongado, como, por exemplo, os anticonvulsivantes.

O uso de medicamentos na gravidez, ainda que seja comum, pode afetar a saúde da mãe e do bebê, principalmente tratando-se de substâncias teratogênicas, como anticonvulsivantes e drogas psicoativas. Por esse motivo, é fundamental evitar a automedicação, seguindo somente a prescrição médica e acompanhamento médico durante a gestação.

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Informações retiradas do Manual Sogimig, capítulo 74.