Entenda melhor o hirsutismo, problema comum que afeta a autoestima das mulheres

 

Problema clínico comum, o hirsutismo tem prevalência de 3% a 15% na população feminina. Para a maioria das mulheres, essa condição tem impacto negativo sobre a qualidade de vida, autoestima e identidade. Isso porque, o hirsutismo causa ansiedade e sofrimento, comprometendo os relacionamentos interpessoais e a convivência social. A seguir, entenda melhor o que é, suas causas, e o impacto na vida social.

O que é o hirsutismo e quais suas causas?

O hirsutismo consiste no excesso de pelos nas áreas anatômicas dependentes de androgênios em mulheres, como lábio superior, queixo, tórax, dorso, abdome, braços e coxas. 

A condição pode apresentar-se de forma isolada ou estar associada a outras manifestações de níveis aumentados de hormônios andrógenos como a acne, seborreia, alopecia, aumento da massa muscular, atrofia das mamas, alterações do ciclo menstrual e infertilidade.

O hirsutismo é diferente da hipertricose, que consiste no crescimento de pelos macios, finos e não pigmentados de maneira generalizada ou localizada em áreas não dependentes de androgênios. 

Causas

As causas funcionais de hirsutismo são responsáveis pela maioria dos casos. Em geral, seu início ocorre com o período puberal, com progressão lenta ao longo dos anos. Entre as causas funcionais estão a síndrome de ovários policísticos (SOP), o hirsutismo idiopático e a hiperplasia congênita da suprarrenal (HCSR).

Síndrome de ovários policísticos

A síndrome de ovários policísticos é a causa mais comum de hirsutismo, sendo responsável por até 80% dos casos. Estima-se que a síndrome ocorra em 4% a 12% das mulheres em idade reprodutiva. Habitualmente, a síndrome surge no período da adolescência,

Hirsutismo idiopático

O hirsutismo idiopático, ou de causa desconhecida, é responsável por 6% a 15% dos casos dessa condição. O quadro se inicia no período puberal com progressão lenta. O nível sérico dos androgênios é normal, os ciclos menstruais são regulares, e os ovários não apresentam alterações.

Hiperplasia congênita suprarrenal

A hiperplasia suprarrenal congênita é uma doença genética com herança autossômica recessiva, portanto resultante de mutações gênicas. Nessa condição, o hirsutismo começa no período peripuberal e pode estar associado a irregularidade menstrual, anovulação crônica e infertilidade. O quadro clínico é muito semelhante ao da SOP.

Tumores produtores de androgênios

Os tumores produtores de androgênios são raros e se manifestam com hirsutismo de início abrupto e piora rápida, associado a sinais de virilização, como alteração da tonalidade da voz, aumento da massa muscular, aumento da libido, atrofia das mamas e hipertrofia do clitóris, entre outros. 

Outras causas

Além das condições acima, o hirsutismo pode ocorrer devido a outras causas como hipotireoidismo, hiperprolactinemia, uso de medicamentos, que devem ser rastreadas nas mulheres que buscam avaliação para o hirsutismo.

Qual a relação do impacto na vida social e o diagnóstico?

A história clínica e o exame físico são fundamentais na avaliação da paciente. É importante que o médico saiba dimensionar o impacto social do hirsutismo na vida da mulher, avaliando a presença de sintomas, oferecendo suporte psicoterapêutico associado ao tratamento adequado. 

Entre eles, os mais comuns são a fobia social, depressão e ansiedade, alteração do padrão de sono, do humor, irritabilidade, labilidade emocional, perda de energia, desânimo, dificuldade de concentração, alteração do apetite e do peso.

É necessária a investigação cuidadosa do uso dos seguintes medicamentos com potencial efeito sobre o crescimento dos pelos: danazol, glicocorticoides, ciclosporina, fenitoína, ácido valproico, minoxidil, testosterona e outros esteroides anabolizantes. Além disso, hábitos de vida, como alimentação, atividade física e mudanças recentes no peso, também devem ser considerados.

A idade de início e a forma de instalação do hirsutismo são informações importantes para a construção do diagnóstico clínico. O padrão do ciclo menstrual desde a menarca deve ser detalhado, bem como a história reprodutiva. O hirsutismo que se inicia no período puberal, de progressão lenta e com ciclos menstruais regulares, sugere hirsutismo idiopático, valendo lembrar que esse é um diagnóstico de exclusão. 

Exame físico

Durante o exame físico, o médico deve estar alerta a respeito de outros sinais de hiperandrogenismo (acne, seborreia, alopecia) e virilização (aumento de massa muscular, engrossamento da voz, atrofia das mamas, hipertrofia do clitóris). Assim, é necessário a avaliação do peso, altura, circunferência abdominal, verificando se há obesidade ou sobrepeso. Isso porque, o excesso de peso é uma condição que piora o hirsutismo. 

Exame laboratorial

A avaliação laboratorial inicial da paciente com hirsutismo inclui a dosagem de testosterona total juntamente com a da globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG). Em caso de amenorreia (ausência da menstruação) o médico exclui gravidez com realização do B-HCG, e avalia a função ovariana e tireoidiana, assim como os níveis de prolactina. 

Na suspeita clínica de hipercortisolismo, ou seja, na presença de estigmas de Cushing, convém realizar rastreamento para a síndrome. Para mulheres com diagnóstico de síndrome dos ovários policísticos, realiza-se uma avaliação do perfil metabólico e do risco cardiovascular, além da solicitação de teste de tolerância oral à glicose, perfil lipídico, medida da circunferência abdominal, pressão arterial e índice de massa corporal.

Como é o tratamento?

Define-se o tratamento do hirsutismo a partir da etiologia, sendo também importante considerar as expectativas da paciente, a gravidade da condição e seu impacto na vida da mulher. De modo geral, o tratamento visa reduzir os níveis de androgênios e/ou bloquear suas ações na unidade pilossebácea. 

A abordagem ampla do hiperandrogenismo também inclui identificar as pacientes em risco para complicações metabólicas (diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, doença cardiovascular) e neoplásicas (câncer de endométrio), oferecendo intervenções para redução desse risco. 

Na presença de comorbidades associadas, a abordagem envolve o tratamento específico das doenças. 

Para os tumores produtores de androgênios e na hipertecose, o tratamento é cirúrgico. Na vigência do hirsutismo desencadeado por medicamentos, o médico considera a possibilidade de suspensão ou substituição da medicação envolvida.

Para as mulheres que planejam engravidar imediatamente, a intervenção farmacológica para tratamento do hirsutismo é contraindicada em razão do potencial teratogênico dos medicamentos. Nessa situação, utiliza-se somente medidas cosméticas para redução dos pelos.

As pacientes que se encontram na faixa de sobrepeso ou obesas devem reduzir o peso, diminuindo os níveis de testosterona e aumentando a SHBG  para melhorar o hirsutismo. A paciente também deve ser orientada que a resposta clínica a qualquer intervenção farmacológica sobre o hirsutismo necessita do intervalo mínimo de 6 meses.

Alguns métodos de remoção dos pelos são úteis e podem ser usados como medidas isoladas conforme a extensão e intensidade dos pelos, ou associados à intervenção farmacológica. 

Os contraceptivos hormonais combinados têm sido a principal terapia adotada para o hirsutismo e representam a primeira linha de escolha para o tratamento farmacológico. Todos os contraceptivos hormonais combinados apresentam benefícios sobre as manifestações do hiperandrogenismo. 

Contudo, é importante que a escolha ocorra pela combinação de critérios como dose e tipo de estrogênio, perfil do progestogênio, via de administração (oral, injetável, anel ou adesivo), adaptação individual, controle do ciclo e custo. 

Apesar de ser mais comum entre mulheres em idade fértil, o hirsutismo é uma condição que pode acometer pacientes em todas as faixas etárias, provocando problemas emocionais associados à baixa autoestima. Portanto, seu diagnóstico e tratamento são fundamentais para melhorar questões de imagem e autoconfiança, diminuindo o desconforto estético.

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