Confira alternativas para a preservação da fertilidade em mulheres
A preservação da fertilidade em mulheres sempre despertou muito interesse na comunidade científica. O fato da reserva ovariana se deteriorar tanto do ponto de vista qualitativo como quantitativo aflige não somente os profissionais de saúde, mas também as pacientes.
O comportamento feminino mudou drasticamente nas últimas décadas com o aumento cada vez maior no número de mulheres que postergam sua primeira gravidez. Isso é impulsionado pelo desejo da realização de sonhos pessoais e profissionais.
Além disso, o aumento da incidência de câncer em mulheres jovens e também maior sobrevida após tratamentos eficazes exigiu o desenvolvimento de uma nova área na reprodução humana, a oncofertilidade, conjunto de medidas utilizadas que visam a preservação da fertilidade em mulheres.
Quando a mulher considera a preservação da fertilidade
A preservação da fertilidade social é a realização de procedimentos que visam o congelamento de óvulos, para postergar a maternidade, por qualquer motivo pessoal, não relacionados a condições médicas.
Existem também indicação de preservação da fertilidade em pacientes não portadoras de câncer, por exemplo, antes da realização de cirurgias ovarianas e do uso de medicamentos que podem reduzir a reserva ovariana, como em tratamentos de doenças autoimunes.
Desejo de postergar a gravidez – Idade e fertilidade feminina
A fecundidade vem sofrendo forte redução nas últimas décadas. Os motivos pelos quais as mulheres têm postergado a primeira gestação são geralmente multifatoriais e complexos. Algumas das causas são a ausência de parceiro, o ambiente competitivo no mercado de trabalho e as restrições econômicas impostas pela maternidade.
A consequência dessa tendência comportamental é que os especialistas em reprodução humana vêm sendo desafiados a utilizar avanços tecnológicos e laboratoriais para ajudar a preservar a fertilidade em mulheres.
A literatura médica está repleta de dados que mostram que a fertilidade e a “idade ovariana” estão estreitamente relacionadas. A fecundidade feminina, definida pela habilidade de ter um “filho vivo”, diminui à medida que a idade aumenta.
Se por um lado a redução gradual e acelerada da reserva ovariana afeta a fecundidade feminina, por outro sabemos que a idade materna avançada provoca perda da qualidade oocitária, refletida na redução da chaves de gravidez e aumento das taxas de abortamento.
Segundo a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), enquanto a taxa de abortamento espontâneo é de 5,7% nas mulheres de 20 a 24 anos de idade, o número salta para 63,6% entre aquelas com 40 a 44 anos.
Cirurgia e reserva ovarianas
O impacto das cirurgias ovarianas sobre a reserva folicular tem sido debatido nas últimas décadas, principalmente no que se refere a endometriose. Concluiu-se que a retirada de endometriomas constitui risco maior para a redução da reserva ovariana das mulheres submetidas à tratamento cirúrgico.
Pulsoterapia por doenças autoimunes
A pulsoterapia é um tratamento que consiste na administração de altas doses de medicamentos por via endovenosa, em curtos períodos de tempo. A insuficiência ovariana prematura (IOP) tem sido frequentemente relacionada como uma complicação da pulsoterapia para doenças autoimunes. Enquanto o dano celular resultante é reversível em outros tecidos, parece ser progressivo e irreversível nos ovários.
Doenças Genéticas
A insuficiência ovariana prematura (IOP) é uma condição relativamente rara, mas que pode aparecer no início da vida. Em um número não negligenciável de casos, a disfunção ovariana ocorre em razão de doenças genéticas, como a síndrome de Turner e a do X frágil.
A síndrome de Turner é uma anomalia cromossômica sexual mais comum em mulheres e está associada ao esgotamento prematuro do arsenal folicular. A infertilidade possível ou provável é uma grande preocupação para as pacientes e seus pais, e os médicos são frequentemente questionados sobre possíveis opções para preservar a fertilidade.
Infelizmente, não há recomendações sobre a preservação da fertilidade nesse grupo. A reserva severamente reduzida dos folículos, mesmo durante a vida pré-púbere, representa o principal limite para a preservação da fertilidade e é a raiz de numerosas questões sobre a competência desses gametas.
Preservação na oncofertilidade
A oncofertilidade ou preservação da fertilidade em paciente oncológica consiste no tratamento que tem como objetivo a tentativa de preservar a fertilidade de mulheres portadoras de câncer. Associada à tendência de gravidez mais tardia, a fertilidade após o tratamento do câncer se tornou questão-chave no que se refere à qualidade de vida de muitas pacientes e de seus familiares.
Após as diversas formas e etapas dos tratamentos oncológicos, a fertilidade dos sobreviventes parece estar comprometida, particularmente se agentes alquilantes e/ou radiação forem administrados.
Confira as opções de tratamentos que visam a preservação da fertilidade em mulheres sob o ponto de vista social e diante de doenças.
Congelamento de embriões
A criopreservação de embriões revolucionou a reprodução assistida no início da década de 1980. A técnica possibilitou a transferência dos embriões obtidos em apenas uma estimulação ovariana, o que provocou o aumento na taxa de gravidez cumulativa por ciclo. Como estratégia para preservação da fertilidade, o congelamento de embriões apresenta importantes restrições, como:
- somente é aplicável em pacientes que alcançaram a idade reprodutiva;
- não preserva a função gonadal;
- necessita de 10 a 14 dias para a estimulação ovariana e captação oocitária;
- na ausência de parceiro, obriga a necessidade de se recorrer ao banco de sêmen;
- envolve implicações decorrentes da geração de embriões, como armazenamento e utilização mediante consenso do parceiro, o que pode vir a ocasionar problemas éticos e legais.
Congelamento de óvulos
Atualmente, considera-se a criopreservação de óvulos a técnica de escolha para a preservação da fertilidade de mulheres, que desejam conservar sua capacidade reprodutiva.
Contudo, para o procedimento, é necessário que a paciente esteja em idade reprodutiva, com função ovariana preservada. Além disso, é necessário um tempo aproximado de 2 semanas para estimulação e punção ovariana, para coleta dos óvulos.
Criopreservação e transplante ovariano
Há duas técnicas descritas na literatura médica: a de criopreservação do córtex ovariano e a de criopreservação do ovário completo. Ambas ainda são consideradas experimentais.
Além da complexidade cirúrgica, essa técnica não resolve a conservação da função gonadal após a quimioterapia. A saída seria postergar o transplante ovariano até o momento em que tenha sido comprovada a remissão da doença oncológica, surgindo a necessidade de criopreservação de todo o tecido.
Entretanto, essa técnica não se mostrou viável para as pacientes oncológicas, podendo ter alguma aplicação para manutenção ou restabelecimento da função gonadal em mulheres menopausadas.
Criopreservação e transplante de córtex ovariano
A opção de extração, congelamento e enxerto de córtex ovariano é a técnica de transplante ovariano que mais acumula experiência na atualidade, havendo relatos de gestações espontâneas e após a realização da fertilização in vitro. Como opção para a preservação da fertilidade são apresentadas algumas vantagens importantes:
- pode ser utilizada em crianças pré-púberes;
- não precisa de estimulação ovariana;
- pode ser realizada de imediato em caso de urgência, não havendo necessidade de postergar o início da quimioterapia.
Obtenção e preservação de óvulos imaturos
A criopreservação de óvulos imaturos apresenta teoricamente algumas vantagens potenciais em relação aos outros meios de preservação de óvulos: em virtude de seu pequeno tamanho e de seu estado de baixa atividade metabólica, esses óvulos são mais resistentes ao processo de congelamento e representam a maioria dos óvulos encontrados no córtex ovariano. Entretanto, a maturação dos óvulos in vitro é atualmente técnica experimental, sem protocolos bem estabelecidos.
Transposição ovariana (ooforopexia)
A ooforopexia consiste no traslado dos ovários para fora do campo de radiação com a finalidade de aumentar as possibilidades de preservar seu funcionamento. O dano celular está relacionado com a dose da radiação. Cabe evidenciar também que devem ser levadas em consideração a idade e a administração conjunta da quimioterapia.
O procedimento tem se mostrado capaz de reduzir a dose de radiação sobre os ovários, diminuindo o dano celular do tratamento. Suas principais indicações são carcinoma colo útero, vaginal e retal.
A preservação da fertilidade em mulheres permite postergar o desejo da maternidade de modo seguro, seja para aquelas que desejam ter filhos mais tarde, ou para mulheres que devem esperar para ter uma gestação devido a condições médicas.
Estas informações foram úteis? Veja também o diagnóstico e tratamento da Síndrome dos Ovários Policísticos para a mulher que deseja engravidar!